Política

Um ano de Milei na Argentina: como o libertário mudou a economia do país

Hoje, com um ano de mandato, sua popularidade está mantida na casa dos 50%, índice parecido à sua votação no segundo turno.

Javier Milei assumiu a Presidência da Argentina há um ano, em dezembro de 2023. Com somente dois anos de experiência no Congresso, o economista, que se alavancou como comentarista de TV, surgiu como um outsider da política. A eleição que o levou à Casa Rosada foi pavimentada por um discurso em que ele se autodeclarava “libertário” e “anarcocapitalista”.

Militante da direita radical, Milei prometeu uma “terapia de choque” para a economia argentina e uma “motosserra” para cortar gastos públicos.

Nesse período, ele de fato reduziu o déficit argentino e controlou a inflação, mas a um alto custo para a população: a pobreza chegou ao nível mais alto nos últimos 20 anos.

Hoje, com um ano de mandato, sua popularidade está mantida na casa dos 50%, índice parecido à sua votação no segundo turno.

Este apoio, de praticamente metade dos argentinos, ocorre apesar de o país atravessar a pior recessão da América Latina, além de sofrer uma queda forte no nível de consumo e um grande aumento da pobreza.

Parte das medidas que o presidente argentino conseguiu colocar em prática neste primeiro ano tem relação com seu passado.

Isso porque o partido que ele formou para impulsionar sua candidatura ao Congresso anos antes – A Liberdade Avança – não tinha representatividade nacional.

A sigla só foi reconhecida oficialmente em setembro deste ano, depois que Milei já era presidente.

Assim, a vitória de Milei representou uma mudança grande na política argentina que até então se dividia entre duas forças principais: o peronismo, movimento que remete ao ex-presidente Juan Domingo Perón, e o antiperonismo.

Essa quebra na tradição política argentina criou obstáculos ao presidente no início do seu mandato.

A coalizão que ele formou não tinha nenhum governo regional e ocupava somente 10% do Senado e 15% da Câmara.

Apesar de governar como minoria, ele acabou conseguindo aprovar algumas de suas propostas principais com o apoio de outros partidos.

No entanto, parte dessas propostas foi imposta por decretos de urgência e por vetos a leis — o que levou opositores a acusar Milei de abusar desses dispositivos constitucionais e de “governar como se fosse um monarca”.

Mudanças na economia

Tanto o Fundo Monetário Internacional (FMI) quanto o Banco Mundial preveem que a Argentina será o país da região que mais vai crescer em 2025.

Mas isso não tem se refletido, por enquanto, em uma melhora na vida da população argentina, que está pagando um preço alto pelo mega-ajuste.

Em 2024, a produção de bens e riquezas no país deve cair 3,4%, o que configura a pior recessão da América Latina.

A pobreza teve seu maior aumento em 20 anos. Hoje, mais da metade dos argentinos são pobres.

Entre as crianças, a situação é mais grave: duas em cada três vivem na pobreza, o que levanta preocupações sobre o desenvolvimento das futuras gerações.

Em resposta a esse quadro, Milei tem dito que a mudança de rumo da economia vai melhorar os índices de pobreza.

Em novembro, ele falou que a recessão estava chegando ao fim e que o país entraria na fase de crescimento.

Logo no começo do seu mandato, a inflação mensal quase dobrou e passou de 20%.

Desde então, desacelerou para 3,5% ao mês, o menor índice em quase três anos. Mas ainda um dos índices mais altos do mundo.

Os simpatizantes de Milei comemoram essa trajetória de desaceleração — e atribuem o êxito ao corte drástico de gastos públicos.

Já críticos questionam se essa queda vai ser sustentável no longo prazo.

A hiperinflação e a inesperada trajetória da moeda argentina, o peso, são um ponto nevrálgico no país.

Durante a campanha eleitoral, Milei chamou o peso de “excremento”. Ele prometia dolarizar a economia argentina e, nas suas palavras, dinamitar o Banco Central.

Já no poder, sua equipe disse que postergou esses planos, focando primeiro em sanar o Banco Central.

No entanto, em decorrência do pacote de ajuste fiscal, o peso se valorizou.

A agência de notícias econômicas Bloomberg destacou que o presidente conseguiu estabilizar uma moeda que estava em queda livre.

Por outro lado, isso trouxe um problema inesperado: a Argentina era um país atrativo graças ao seu câmbio favorável, mas agora está mais cara em dólares, o que aumenta o custo de vida dos locais e afeta o turismo e a indústria.

Ainda assim, mesmo com a valorização do peso, Milei ainda não desistiu da ideia de acabar com a moeda.

Ele diz que o país passará por uma, entre aspas, “dolarização endógena”, em que o dólar vai gradualmente substituir o peso nas transações até que se chegue ao ponto de fechar o Banco Central.

A foto mostra Javier Milei como se estivesse gritando, com as mãos abertas ao lado do corpo, gesticulando.

Crédito,Reuters

Estilo agressivo

O estilo agressivo de Milei, que ganhou popularidade justamente tentando se afastar da imagem de político tradicional, afetou suas relações diplomáticas no exterior.

Durante a campanha eleitoral argentina, o presidente brasileiro Luis Inácio Lula da Silva (PT) declarou apoio ao adversário de Milei, Sergio Massa.

Após vencer, Milei convidou o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no lugar de Lula para a posse.

Em mais de uma ocasião, o presidente argentino chamou Lula de “corrupto” e “comunista”.

Lula reagiu dizendo que o argentino falava “muita bobagem” e que devia “desculpas ao Brasil”, algo que nunca ocorreu.

Apesar da relação bilateral histórica com o Brasil, o líder argentino encontrou o presidente brasileiro pela primeira vez somente em novembro, na cúpula do G20, no Rio de Janeiro.

As imagens do encontro viralizaram por destoarem do jeito caloroso com o qual Lula recebeu os demais líderes estrangeiros.

No encontro diplomático, a Argentina fez oposição a uma pauta defendida pelo Brasil: a taxação dos super-ricos no comunicado final da cúpula. A menção, no entanto, foi mantida.

Apesar das trocas de farpas, houve um episódio de aproximação durante a crise que se abriu com as eleições na Venezuela, ocorridas em julho.

Com a escalada das tensões no país, devido à ausência das atas eleitorais, o presidente Nicolás Maduro expulsou os diplomatas argentinos do país e o Brasil assumiu temporariamente a custódia da embaixada da Argentina em Caracas.

Na ocasião, Milei fez um gesto inédito: agradeceu e escreveu em sua conta no X que “os laços de amizade que unem a Argentina com o Brasil são muito fortes e históricos”.

A personalidade de Milei rende elogios de seus simpatizantes, por ser alguém genuíno que fala o que pensa e que traz mudanças.

Já seus críticos dizem que as ofensas propagadas por Milei nas redes sociais vão estimular a violência política na Argentina.

Fora da Argentina, Milei foi chamado de “revolucionário do livre mercado” pela revista The Economist, que tem grande influência internacional.

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