
Efeitos da Guerra Tarifária: Oportunidade para a América do Sul
A escalada da guerra tarifária entre Estados Unidos e China trouxe efeitos inesperadamente positivos para a América do Sul, especialmente para o Brasil. Com o aumento das tarifas entre as duas maiores economias do mundo, o setor agrícola brasileiro ganhou força, enquanto o agro americano começou a sentir os impactos negativos.
Brasil Ganha Espaço no Mercado Chinês
De acordo com reportagem do Financial Times (FT), publicada no domingo (13/4), tanto a China quanto a União Europeia estão voltando seus olhares para o Brasil. O país é visto como uma “opção estável” no fornecimento de alimentos como soja, carne bovina e aves.
Ainda segundo o jornal, o Brasil já havia sido “o grande vencedor” da primeira rodada de tarifas entre China e EUA, ocorrida durante o governo de Donald Trump. Desde então, os produtores brasileiros conseguiram ampliar significativamente sua presença no mercado chinês.
Novo Capítulo da Guerra Comercial: Mais Benefícios para o Brasil
Nas últimas semanas, o presidente americano anunciou novas tarifas contra produtos chineses, que podem chegar a até 145%. Esse movimento, segundo o analista agrícola Isham Bhanu, representa uma verdadeira “bênção” para o Brasil e também para a Argentina.
Consequentemente, os números já refletem esse novo cenário. A venda de carne bovina brasileira para a China aumentou 33% no primeiro trimestre de 2025, em comparação com o mesmo período do ano passado. Além disso, as exportações de aves subiram 19%. A soja brasileira também ganhou vantagem, tornando-se mais competitiva do que a norte-americana.
Agro Americano Pressiona Governo
Enquanto isso, o setor agropecuário dos EUA vem sofrendo com a perda de mercado. O presidente da Associação Americana de Soja, Caleb Ragland, publicou uma carta aberta pedindo que Donald Trump feche um acordo “urgente” com a China. Conforme aponta o FT, o país asiático não apenas bloqueou a entrada da carne bovina americana, mas também impôs restrições à importação de soja, milho, trigo e sorgo.
Brasil Avança, Mas Enfrenta Desafios
Apesar das conquistas, o Brasil ainda lida com gargalos logísticos. Aurélio Pavinato, executivo da SLC Agrícola, reconhece que o país está em “boa posição” para se beneficiar da situação, mas destaca limitações na infraestrutura, principalmente nos portos.
Entre 2016 e 2023, a participação dos EUA nas importações chinesas de alimentos caiu de 20,7% para 13,5%. No mesmo período, a fatia brasileira saltou de 17,2% para 25,2%. No entanto, os Estados Unidos ainda mantêm vantagem em infraestrutura e capacidade de escoamento.
Potenciais Investimentos e o Papel da União Europeia
Por outro lado, especialistas acreditam que o atual momento pode atrair novos investimentos em logística no Brasil. Com melhorias no transporte e na infraestrutura, o país poderá atender melhor a demanda crescente por alimentos em diversas regiões do mundo.
Além disso, a possível ratificação do acordo entre Mercosul e União Europeia pode dar novo impulso ao setor agropecuário brasileiro. A UE, no entanto, também quer garantir seu suprimento e pode disputar com a China pelos mesmos produtos.
Aumento da Demanda e Riscos de Alta de Preços
Por fim, o FT alerta para um possível desequilíbrio entre oferta e demanda. Pedro Cordero, representante da Federação Europeia de Manufatura de Alimentos, afirma que, caso a demanda global continue crescendo, e o Brasil não consiga atender sozinho, os preços dos alimentos poderão subir.