Artigo

Dom Quixote de La Mancha: 420 anos

By Moacir de Melo

Já se vão 420 anos desde quando, em janeiro de 1605, o escritor maior espanhol, Miguel de Cervantes (1547-1616), publicou a obra considerada imortal de título deste artigo. O livro foi o primeiro best-seller mundial, tendo sido considerado em 2002 por um grupo de estudiosos do mundo, o livro mais importante de todos os tempos, tendo sido traduzido para mais de 50 países e se tornando um clássico da literatura mundial. O autor é visto como um dos quatro melhores escritores mundiais.

Sim, Dom Quixote, o personagem principal, continua vivo na memória de quem teve a oportunidade de ler o livro. Ele cultivou sonhos demais ou devaneios por demais e, por  isto, seguiu em frente com a nobre missão de proteger os fracos e oprimidos. Para tanto o escritor coloca-o em cena lutando contra moinhos de vento, pensando ser um gigante, sempre perdendo as lutas enfrentadas, fato que pode ser interpretado como uma metáfora para enfrentamento dos problemas sociais sem as ferramentas certas do seu tempo.

A atemporalidade dessas lutas inglórias do nosso herói pode ser comparada, no nosso País, com a questão da pobreza, desigualdade social, violência e falta de acesso a serviços básicos, frequentemente combatidos com discursos vazios, evitando não se chegar às causas básicas da pobreza e eternizando e institucionalizando a pobreza via desigualdade social. Dom Quixote via a mundo como ele gostaria que ele fosse, da mesma forma que, nos tempos modernos, os discursos políticos são cheios de idealismo, porém, sem ações concretas para solucionar as causas. Pois é, 420 anos se passaram. Pouca coisa ou quase nada mudou apesar das inúmeras tentativas de regimes políticos testados mundo afora.

Em nosso país a população, muitas vezes cética, continua acompanhando líderes e propostas que nem sempre trazem mudanças reais, oscilando entre esperança e frustação. Por isto, a tragédia vivenciada por Dom Quixote é a mesma de muitos que tentam mudar a sociedade, ou seja, uma luta contra um sistema que não se transforma com facilidade. A loucura, contudo, de Quixote, deixa-nos um recado positivo: a crença de que o mundo pode ser melhor. Acredito, sinceramente, que no Brasil e no mundo afora precisamos desse entusiasmo para continuar sonhando com um futuro melhor e mais justo. Afinal, é preciso ter esperança!

No contexto histórico de nosso país, vejo um personagem brasileiro padrão Dom Quixote: Cristovam Buarque, Senador, homem cheio de sonhos que rapidamente o sistema transforma em devaneios. Sim, nosso Dom Quixote luta durante toda uma vida pela melhoria do ensino médio brasileiro e do padrão escolar como um todo, do bolsa escola controlado que se tornou bolsa-família sem controle e sem saída, fatos que atrapalham o país e a nação que convive com baixa produtividade. O senador escreve, escreve e nada consegue. O sistema é bruto por demais. Vale, porém, sua luta, senador. Merece nossos aplausos.

Enquanto isto, vamos caminhando sem lenço e sem documento como uma geração denominada de “Z”, sem perspectivas de futuro. Sim, um enorme contingente de pessoas desanimadas, desnorteadas, sem vontade de trabalhar, estudar, formando um enorme contingente de ‘nem nem’, sem futuro e caminhando para se tornar, no futuro, dependentes de algum órgão governamental.  O caminho está totalmente errado. Miguel de Cervantes, se aqui estivesse e observasse este status quo, aí, sim, ficaria totalmente maluco.

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