Marcelo Rubens Paiva, no livro que marca sua estreia na literatura brasileira, “Feliz Ano Velho,” editado em 1982, nos relata sua própria história de sofrimentos e superação vivenciada a partir de um acidente que o tornou, em caráter irreversível, um tetraplégico. Muito trágico! Aos poucos, porém, nosso personagem se deu conta de sua nova realidade e entendeu que era preciso lutar porque a vida continuava. E vai à luta.
Essa atitude, mostrada na autobiografia, evidencia a irreverência e a determinação do jovem mesmo na adversidade, com a compreensão de que o futuro é uma quantidade infinita de incertezas, num exemplo de superação que vale a pena conhecer. O livro tornou-se best-seller da década de 1980, principalmente por sua linguagem simples, sendo adaptado para o teatro e um filme.
Da mesma forma, em 2019, nosso escritor editou o livro “Ainda estou aqui”, que também tornou-se filme com o mesmo título e está em cartaz nos cinemas nacionais, com muito êxito, recorde de público para uma produção nacional e até foi indicado para concorrer aos prêmios maiores do cinema mundial. Parabéns!
No livro, Paiva nos relata a triste história familiar em decorrência de perseguição pelo então regime militar no Brasil (1964-1985) que, em 1971, sequestrou, de maneira inusitada, seu pai, o então Deputado Federal Rubens Paiva que pelo que se sabe, foi torturado e assassinado nas dependências de um quartel militar, sendo que seu corpo, até os dias de hoje, não foi encontrado. História triste, porém verdadeira.
Sabe-se que a história verdadeira de Rubens Paiva é a mesma de centenas de histórias semelhantes naquele período, quando a tônica era a de torturas, exílios, cassação de mandatos e todas as formas de pressão política para viabilizar a então Ditadura Militar no comando do país e da nação brasileira. Exemplos que devem nos levar à reflexão sobre os efeitos da distopia de um regime totalitário em uma família qualquer que seja e que, com convicção, podermos afirmar: ‘Ditadura nunca mais!’.
Da mesma forma, termos a convicção de que a democracia, com todos suas nuances e imperfeições, é o melhor regime já experimentado no nosso planeta. Porém, carece de vigilância, aprimoramentos e adaptações que exigem lideranças políticas comprometidas com o futuro da nação como um todo.
Porém, eu também ainda estou aqui, em 2024, para atestar que tenho algumas importantes saudades de como foram, para mim, estes anos que, na verdade, vivi, participei com trabalho, muita vontade de vencer, com muito foco nos estudos sempre noturnos e sem medo do futuro. Sim, como não ter saudades da segurança que tínhamos na “Campininha” interiorana, onde caminhávamos, à noite, com tranquilidade desde a praça da matriz até a escolinha do professor Rubens Carneiro? Como não ter saudades de um tempo de estabilidade econômica, inflação controlada, balanços das empresas corrigidos pela inflação, grande obras; do grande apoio à industrialização brasileira com um crescimento acelerado culminando com o que foi denominado de milagre brasileiro de 1968-973? Como não ter saudades dos cursos técnicos que formavam profissionais para o mercado de trabalho – e não emprego para ninguém – e, exatamente por isso, não haviam as benesses governamentais de hoje que induzem as pessoas ao ócio e a um futuro incerto.
Ou seja, para mim, o período citado foi como um rio que passou na minha vida. Também pudera: nunca me envolvi em política partidária nem procurei apoio em governos, quaisquer deles, no meu caminho focado. Sim, estudei em escolas pagas com meu trabalho desde o ensino médio profissionalizante. Nos dias de hoje, fico triste quando percebo a falta de garra de um geração ‘nem nem’, atabalhoados com o ensino médio não profissionalizante; quase metade da população pendurada nas tetas governamentais; filhos de ricos nas melhores escolas, fato que aumentará a desigualdade cada vez mais; governantes não preocupados com a educação básica e que só trabalham para se eleger ou reeleger, entre outras vantagens pessoais. Não, realmente não é para ficar alegre e, certamente, o caminho do futuro não é este.
É bom termos em mente o célebre desabafo do último Presidente do Regime Militar, João Figueiredo, pela pressão que sofria, diariamente, para fazer a abertura política no país, e que afirmou, enraivecido: “O mundo verá o que eles farão com tanta democracia; jogarão a Nação num lamaçal de dimensões continentais, onde o povo afundará na corrupção, na roubalheira, na matança até que se instale o caos social, seguido de uma inevitável guerra civil…”.
Sim, há que se pensar no atual momento desta grande nação. Será que estamos realmente caminhando para o caos social? Será que o legado para nosso filhos e netos será salutar para eles? Vamos pensar e refletir sobre essa realidade latente de um momento de indefinições. Afinal, ainda estamos aqui, também…